quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Tempo – Cláudio Ulpiano



Aula 4 em áudio – a partir do minuto 12: 30. Retirado do site: http://www.claudioulpiano.org.br/
O tempo

“Quando eu não penso o tempo, daí eu entendo o tempo”. Santo Agostinho.

O homem comum tem só uma representação do tempo – passado, presente, futuro. A busca de uma representação do tempo torna um obstáculo ao entendimento dele. O tempo ao ser associado ao pensamento, não pode ser dito como é dita a representação do tempo. Se eu começo a pensar o tempo, vou começar a descobrir, que o tempo se constituem de múltiplos corredores, uma quantidade quase que indefinida de finidade de planos. Que não segue a trilha clássica da representação – ele vai e vem, rupturas, zigue-zagues, etc. Não é regido por princípios, por exemplo: princípio da não contradição.

O pensamento rompe com a representação que temos de tempo, ou seja, passado, presente, futuro. Toda questão nesse fim de século – todas as práticas das experimentações da filosofia e da ciência são um mergulho nas representações. Toda prática da filosofia se desenvolve, manifesta, relaciona com o tempo. Uma relação que não é reprodução e o modelo do tempo banal com a qual nós vivemos.

Temos uma dificuldade muito grande em sair das nossas próprias representações. Pois ela dá a sensação de segurança, e nós ficamos envolvidos por ela ao qual dá uma garantia pra nossa vida. Ou uma suposta garantia.

Quando rompemos com a representação do tempo, ocorre dois fatores:

I. EFEITO EXISTÊNCIAL:

Vai abalar a nossa maneira de viver quando confrontado com a nossa representação, ou não, pois estamos “vacinados” contra essa representação, ao que nos dá uma sensação de satisfação.

II. EFEITO DE FUGA:

Abandonar a superfície clara da razão humana, pois ela sempre supôs que para ela funcionar ela precisa de uma superfície clara ao penetrar no mundo do tempo, que nos causa um atordoamento (choque, golpe). Começamos a nos surpreender do que é a vida.

Existe um pintor chamado Debuff, em que para ele todas as representações são meras ficções, no sentido que a realidade é constituído de movimentos super velozes de moléculas que nós não aprendemos. Ela é constituída de coisas que não tem nada haver com a nossa realidade/ representação.

Toda a representação do tempo, espaço, diâmetro, sucessões, etc. É produto do nosso organismo. Para poder passar, ele constrói uma representação segundo o seu modelo. Nós estamos numa representação orgânica do mundo, significa que fazemos do mundo uma representação. O organismo projeta um cosmos racionalmente organizado, ele tem uma ordem racional semelhante à física de Newton – nós possuímos uma razão para dar conta desse cosmo. O homem está permanente a natureza, segundo um modelo da sua representação orgânica, segundo Nietzsche – uma humanização da natureza (projeções das representações humanas).

Uma representação não cria mais nada.


O mundo do caos se torna uma potência criadora e criativa onde nós mergulhamos no regime dos possíveis. Quando estamos no sonho, as dimensões do tempo se perdem, e ao acordarmos, pensamos: onde estou? Logo nos localizamos e começamos a produzir.

Quando confrontados com o caos, ou podemos fugir – não querendo saber dele – ou procuramos outros agenciamentos, como a religião, para poder dar conta do medo.

Devemos saber que as práticas criativas são um mergulho no caos.

A arte Gótica é a natureza caótica. Em cima dessa natureza, o homem constrói qualquer coisa que sirva para ele. O gótico da liberdade para o experimentador poder criar e inventar os sentidos que o caos constitui.

Todos estamos afundados no caos, em que nós só conseguimos elaborar alguma coisa nele, a partir da nossa maneira de representar o Tempo – uma tentativa de organizar o caos.

A nossa vida prolonga outras vidas, as nossas teorias prolongam outras teorias.

O artista não é aquele que cria do nada, ele apenas renova.

Um psicótico ou esquizofrênico vive em outro tempo, outra representação, ele acaba perdendo o eixo. Ele sempre pergunta: que horas são? É uma busca por referência.

Pensar o Tempo é pensar o corpo que está afundado no Tempo.

Quando o pensamento volta a pensar o seu corpo ele volta a pensar as categorias da vida: são os afetos do corpo.

Cada corredor que penetramos é um novo mundo que aparece na nossa frente.

Mergulho no Tempo é o mergulho no mundo dos possíveis.



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