sábado, 3 de outubro de 2009

Deleuze, a arte e a filosofia - Roberto Machado



MACHADO, Roberto. Deleuze, a arte e a filosofia. Zahar editores: Rio de Janeiro, 2009. 340 Páginas.

“Seu pensamento não se restringe à consideração do texto filosófico: fazer filosofia é muito mais que do que repetir ou repensar filósofos. Quando, porém, ele estuda o discurso científico ou as expressões artísticas e literárias, jamais tem por objetivo fazer filosofia das ciências, das artes ou da literatura. Pois, para ele, a filosofia não é uma reflexão sobre a exterioridade da filosofia, uma reflexão sobre domínios ou áreas extrínsecas ao discurso filosófico; ela é um processo de criação. “Não creio que a filosofia seja uma reflexão sobre alguma coisa, como a pintura ou cinema...Não se trata de refletir sobre o cinema...O cinema não é para mim um pretexto ou um domínio de aplicação. A filosofia não está em estado de reflexão externa sobre outros domínios, mas em estado de aliança ativa e interna entre eles, e ela não é nem mais abstrata, nem mais difícil.(...) Quando se vive em uma época pobre, a filosofia se refugia em uma reflexão ‘sobre’...Se ela nada cria, que mais pode fazer senão refletir sobre?... De fato, o que interessa é retirar do filósofo o direito à reflexão sobre. O filósofo é criador e não reflexivo.” P.11-12

“O que Deleuze chama de devir do conceito é essa a conexão tanto dos elementos de um conceito quanto dos diferentes conceitos em um mesmo sistema conceitual; é o fato que os conceitos se coordenam, se conectam, se compõem, se aliam numa determinada filosofia, mesmo que tenham histórias diferentes. Assim, ele distingue devir e história de um conceito. Dizer que um conceito tem uma história significa que ele não é criado do nada; foi preparado por conceitos anteriores ou alguns componentes desse conceito vêm de conceitos de outros filósofos, embora ele permaneça original”.P. 16-17.

“Para Kant, se o “eu penso”é uma determinação que implica uma existência indeterminada “eu sou”,ainda não se sabe como esse indeterminado é determinável, nem sob que forma ele aparece como determinado. Portanto, não se pode dizer, como Descartes, “eu sou uma pessoa pensante”. Por que Kant pode dizer isso? Porque introduz um novo componente no cogito , o tempo como forma da interioridade, defendendo que só no tempo minha existência indeterminada é determinável.” P.17


“A crítica Kantiana consiste em negar um encadeamento entre os dois termos e propor o terceiro.Esse terceiro termo é a forma sob a qual o indeterminado é determinável pela determinação: a forma do tempo. O que muda, então, com a introdução do tempo no cogito? Que a existência do “eu penso”só é determinável no tempo, portanto como um eu fenomenal, receptivo e mutante, porque o tempo é uma forma de intuição, que é sensível, e não intelectual, como o “eu penso”, que Kant chama de forma de apercepção: o tempo é a forma sob qual a intuição de nosso estado interno torna-se possível. O tempo “só nos representa à consciência como nos aparecemos e não como somos em nós mesmos porque só nos intuímos como somos internamente afetados...”. Assim, o eu transcendental é distinto do eu fenomenal, porque o tempo os distingue no interior do sujeito.” P.17


continua....

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